Em qualquer cadastro americano nos perguntam se somos hispanos ou latinos. Não, sou brasileiro! Nem um nem outro. Quais são nossas raízes?
Península Ibérica agrega a cultura milenar de distintos povos desde a pré-história aos cartagineses, romanos, góticos de civilização celta, sarracenos e judeus. A península cartaginesa dos tempos de Aníbal foi tomada pelo Império Romano onde permaneceu até o ano 349DC no calendário espanhol.
Após a queda do Império Romano do Ocidente, a Província Portugaliae foi ocupada pelas tropas góticas até o ano de 739DC. Neste período, a Espanha começou a sofrer a infiltração dos Mouros Sarracenos que estavam tomando todo o território com o Emirado de Córdoba até o ano 904 DC, quando Don Afonso I iniciou a restauração. Dois séculos e meio mais tarde em 1166DC, depois de pesados combates contra mouros e espanhóis, o filho da rainha espanhola declarou a Independência da Província Portucalense. A força lusitana cantada por Camões exaltou a herança guerreira dos ancestrais portugueses. A espiritualidade dos cristãos góticos e a crença judaica em Deus, pai de um filho Primogênito, motivou o esforço armado para livrar a Ibéria do islamismo. Eles impediram o avanço da religião que estava “governando” sobre dois terços de suas terras.
A revelação islâmica nascida em Yathrib, logo invadiu toda a Arábia e países vizinhos. A fé islâmica, impulsionada pelos califados, estava na vida diária de milhões de habitantes do Mediterrâneo à Europa e Ásia. O tentador sistema islâmico de distribuir propriedades dos povos vencidos entre o exército estava acrescentando seguidores mercenários a cada vitória. Este sistema foi aplicado sobre os judeus de Yathrib (a cidade que recebeu o nome de Medina ou Cidade do Profeta) e foi bem aceito por pessoas com desejo de enriquecer. O Al Corão começou a ser recitado no alto dos minaretes para convocar os seguidores à oração. Os versos eram ouvidos dos Algarves (Al-Gharb ou Oeste), ao Sul da Galícia e próximos de envolverem toda a Ibéria. O renomado Saladino foi Califa do Egito e Al Jazira, até hoje ele é honrado como herói muçulmano. Ao iniciar o último século do primeiro milênio, o rei da Espanha e sua esposa analisaram o avanço do Em irado de Córdoba. Eles reconheceram que estavam perdendo seus tronos e iniciaram a Guerra da Reconquista.
O domínio político islâmico em nome da religião
causou indignação do povo que havia perdido suas terras e também de Don Afonso
I, rei da Espanha. No ano de 904 DC, segundo o calendário espanhol, o rei
começou a expulsão dos sarracenos em uma guerra sem fim que se estenderá por
mais de seis séculos. As vilas, castelos e cidades foram sendo abandonadas
pelos islamitas. Em dez anos estes locais receberam cristãos da Província da
Galícia. O rei espanhol a frente de suas tropas empurrou os mouros sarracenos
para fora da Ibéria, restaurando parte do seu reino. Houve mais vitórias do que
perdas nas incontáveis batalhas que
estimularam várias nações da Europa, duzentos anos mais tarde a enviarem as
Cruzadas à Palestina. A construção de São João do Acre, no antigo porto de Jope
em Israel, reflete o empenho medieval.
Após a morte do conde Don Henrique, o seu filho o
infante Don Afonso Henriques com quatorze anos de idade assumiu um compromisso
divino no domingo de Pentecostes do ano de 1163DC na igreja de Zamora. Este
ínclito infante vestiu as armaduras e empunhou a espada do seu avô. Ele deixou a
igreja para comandar o exército espanhol, para enfrentar e banir os mouros
sarracenos, continuando a campanha iniciada pelo velho rei. Em três anos de
incontáveis combates, Don Afonso Henriques havia recuperado o território
espanhol do Mediterrâneo ao Atlântico. Este legendário infante também abriu guerra
contra os aliados da rainha, sua mãe. Estes aliados não eram nada mais do que usurpadores.
No dia de São João no ano de 1166 em Guimarães, Don Afonso Henriques derrotou
as tropas dos pretendentes ao trono espanhol. Após este evento iniciou-se a separação
definitiva da Província Portucalense, com aclamação de Dom Afonso Henriques como
rei da nação chamada Portugal. O bravo infante havia sido acusado de heresia
pelos usurpadores; para ser executado pela inquisição. Para esta falsa acusação
ele respondeu: “Minha heresia está gravada nas cicatrizes recebidas dos mouros”.
A jovem nação recebeu cidadãos da Galícia que foram assentados em Coimbra. Eles
desenvolveram a estrutura da língua portuguesa em distinção ao espanhol. Os
primeiros versos em Português foram escritos por Dom Sancho e Dom Diniz no
final do Século XII, quando havia somente o gênero gramatical masculino. Os
vigores pátrios lusitanos produziram valorosos guerreiros contra o Jihad
islâmico. Do comércio judaico dos Cristãos Novos cresceu a burguesia que elevou
sobre continentes a bandeira de Portugal.
A população portuguesa é formada por raízes não
latina. Considerar a genealogia portuguesa como sendo Latina, é declarar não
reconhecer a história Medieval Ibérica. A forte presença da linguagem hebraica
na formação do Português não se encontra no Latim, Espanhol ou no Inglês. O
masculino, feminino e plural é produto exclusivo do Hebraico. Observamos que os
nomes dos dias da semana na língua portuguesa não seguem a forma teutônica dos
seus países vizinhos; lunes, martes…, Sunday, Monday…, mas a judaica; Dia
Primeiro, Dia Segundo, Dia Terceiro etc. Devemos saber que outros idiomas
compõe o português; como palavras do árabe, grego em maior quantidade do que o
latim. Aos dias de hoje, a cultura árabe é mais presente na Ibéria do que em
seus próprios países, a semelhança da música árabe na Espanha.
A Província Portugaliae foi tão romana na Ibéria,
quanto a Flavia Cesariensae (Grã Bretanha), com nomes latinos para cidades e
ruas, contudo não são latinos. Estes países e tantos outros da Europa foram
regidos pelos governos dos mesmos imperadores Romanos. Alguns países na Europa,
cujas populações são brancas caucasianas, têm a raiz do Latim em seus idiomas
nacionais, entretanto suas raças não são latinas.
Em Portugal, o povo conhecia o Latim Clássico Litúrgico através das missas diárias rezadas pelos padres católicos. O Latim Clássico foi logo associado a outras línguas maternas: Galega, Arábica e Judaica na composição de uma língua original. Os padres católicos eram os únicos eruditos a influenciar o povo e a corte da nova nação, eles desenvolveram a melhor estrutura gramatical para diferenciar do espanhol. De qualquer maneira, o idioma português não apresenta os ideogramas ou dialetos dos antigos celtiberos (Asterix) que se transferiam para a Irlanda após as invasões romanas.
Os reis portugueses levaram os padres católicos a ensinar o novo idioma como nova identidade política e cultural de uma nova nação. Este é o porquê do Imperador brasileiro Dom Pedro I se orgulhar em não pronunciar o “b” como os castelhanos (v) que até hoje pronunciam Vrasil. Em Portugal, a cultura romana ficou restrita ao Latim dos celibatários padres católicos, sem qualquer influencia na genealogia portuguesa. Desde a partida dos romanos da Península Ibérica até a aclamação de Portugal, houve um lapso de tempo de quase oitocentos anos. O império romano não construiu em Portugal tantas obras arquitetônicas, quanto as dos invasores góticos (bárbaros godos) e árabes. O idioma português com seus oito séculos de existência deve ser considerado parcialmente como de origem latina, mas a raça não deve ser entendida como latina, porque prevalece a raça branca caucasiana dos celtas da Galícia e judaica. A generalização é o grande erro dos sociólogos ao identificarem os povos de língua portuguesa como pertencentes a uma raça latina. Este idioma tem sido alvo do esfacelamento cultural com inúmeras modificações nos últimos 80 anos.
Os territórios recém-conquistados pelos portugueses e espanhóis estavam muito afastados dos grandes centros europeus, mas deveriam ser explorados e povoados, apesar de não haver cidadãos para esta colonização. A Lei espanhola sobre o Direito das Índias regulamentou a igualdade social através da mistura de raças. Este procedimento não foi adotado por Portugal, porque as colônias do Brasil, África, Índia, Ceilão, China e algumas ilhas, estiveram apenas sob o domínio do monopólio comercial. Como seria impossível Portugal povoar os territórios conquistados, a tática empregada foi a de manter apenas feitorias comerciais na orla marítima das colônias. No Brasil, o povoamento do interior foi bem sucedido com o término do sistema de Capitanias Hereditárias e a implantação do Governo através de Províncias. Quando o povo judeu passou a ser executado pela Inquisição na Europa, o governo de Lisboa lhes ofereceu a oportunidade de se refugiar em Portugal. Eles seriam recebidos se aceitassem traduzir os seus nomes para o português e se recebessem o batismo católico como Cristãos Novos. Diante desta possibilidade, milhares de famílias mudaram-se rapidamente para Portugal. Eles foram muito importantes para Portugal, não somente pela linguagem ou pelo seu dinheiro, mas pelas valiosas informações sobre as conquistas do rei Salomão obtidas de navegadores de Társis. A sociedade judaica e os remanescentes mouros foram subjugados através de concílios e tratados portugueses na Idade Média, em óbvia discriminação econômica e cultural. Mais tarde no Brasil, os Cristãos Novos serão odiados por sua riqueza e por sua amizade com a família imperial e até por suas participações no “Partido Português”.
As expedições portuguesas, após a descoberta de Vasco da Gama, levaram entre tantos aventureiros; muitos judeus procurando por descendentes das dez tribos perdidas que pudessem estar vivendo nas Américas. O comerciante e arrendatário Fernando de Noronha e alguns judeus marranos estiveram no sul do Brasil em 1503. Eles deram o nome de Cananeia ao lugar que poderia ser Ofir ou Ufaz. Esta possibilidade era real porque a primeira expedição militar em 1531, sob o comando de Martim Afonso de Souza, desembarcou e demarcou o território de Cananeia. A linguagem Tupi dos indígenas brasileiros não aparenta ter recebido qualquer influência do idioma Hebraico. Martim demonstrou especial cuidado ao assentar um marco de pedra com a Ordem Militar de Cristo em Cananeia, porque aquele era o limite sul da sua futura capitania.
O idioma Tupi tem o pronome pessoal “nós”
diferente de outros idiomas. Este pronome tem duas variações chamadas de “iandê
que inclui o eu e o tu e o “orê” onde o tu está excluso”. O “nós” do “tu-excluso”
é bem diferente do “anahnu” do Hebraico. Se houvesse alguma influência direta
de descendentes judeus na América pré-colombiana, certamente a linguagem teria
apresentado alguns traços desta língua materna. As possibilidades de navegantes
de Társis haverem chegado às costas brasileiras por ventos e correntes oceânicas
não são tão remotas. A descrição de mercadorias levadas ao rei Salomão por expedições
saídas de Társis consta de macacos chamados “bugios” e madeira macia de cor branca
utilizada para instrumentos musicais e ornamento. Existem leis de proteção
ambiental que protegem toda a vida animal em todas as regiões da Mata Atlântica,
inclusive em Cananéia onde há inúmeros exemplares de ambas as espécies. A madeira
branca, macia ao corte, escultura é considerada ótima para a viola e rabeca aparenta
ser a “caxeta”, abundante nesta região e foi amplamente utilizada na fabricação
de lápis.
A guerra generalizada entre o Cristianismo e o
Islamismo se prolongou por séculos. A frente islâmica foi repelida até sofrer a
guerra em suas próprias terras com as Cruzadas. O avanço islâmico contra a
Europa foi contido com as novas armas de fogo. Entretanto, a nova religião
tomou novos rumos em direção ao Oriente, sendo levada pelas rotas marítimas até
a Indonésia. A invenção da pólvora e o uso de roqueiras para lançar pedras,
levaram os engenheiros a desenvolverem novas armas capazes de lançar a longa
distância os mais variados projéteis. O maior problema enfrentado na fabricação
de canhões foi acertar a têmpera adequada para evitar as frequentes explosões.
D Henrique de Castela em 1370 utilizou canhões contra as tropas portuguesas em
Cidade Rodrigo, Aljubarrota e Lisboa. “Mas não fizeram nojo, pois tão frágeis,
arrebentavam aos primeiros tiros destruindo a numerosa guarnição de castelhanos”.
(Gen João M Cordeiro). O mesmo aconteceu ao canhão “Maometa” fabricado pelo
exército muçulmano, para ser usado contra Constantinopla, ao explodir após
detonar três tiros e destruir sua guarnição que engenheiros que o fabricaram no
local do combate. O canhão Maometa para ser transportado do local de fabricação
ao campo de batalha empregou 200 cavalos e outro tanto de artilheiros.
O mestre de Avis, pai de numerosa prole, havia
recebido a disputada coroa portuguesa e o título de Dom João III em 1385. Para
defender suas fronteiras contra os ataques espanhóis, as indústrias lusitanas
começaram a produzir canhões com as técnicas metalúrgicas dos sarracenos. As
indústrias portuguesas obtiveram aço maleável para armas de fogo nas forjas de
Arcebispo e em Santa Clara. Dom Afonso V estabeleceu em Portugal a 1ª Unidade
de Artilharia em 1449 e o cargo de Provedor Mor da Artilharia. Os canhões foram
instalados pela primeira vez para defender as fronteiras, rios e mares. Em
Lisboa, os canhões também foram instalados em navios com casco reforçado para
mil tonéis, cujo modelo foi utilizado na construção de caravelas.
A oferta de terras aos seus filhos, a rainha Dona
Filipa entregou ao infante Dom Henrique a Província de Algarves, para onde se
mudou e se estabeleceu em Sagres. Consequentemente tornou-se o filho que mais
sofreu com os ataques dos mouros sarracenos. As invasões mouras sobre Portugal estavam
causando pesadas perdas sobre os pagamentos de taxas de pedágio por navios em
trânsito nas costas lusitanas. O Infante Dom Henrique organizou secretamente a
bem sucedida invasão sobre Ceuta em 1415. Por esta vitória, Dom João o premiou
com o honroso título de Cavaleiro e Regente da Ordem Militar de Cristo. O rei
também encarregou Dom Henrique como Administrador de taxas sobre vigilância
costeira, pesca e produção de trigo sarraceno.
Um dos filhos era Dom Pedro que em 1428 realizou uma viagem a Veneza, Europa e Oriente Médio e trouxe informações através de um livro. Dom Pedro obteve mapas e o livro escrito por Ruticello, sobre a viagem de Marco Polo aos centros produtores de especiarias na Ásia, de onde não se avistava a estrela Polar. Dom Henrique já sabia das distantes ilhas oceânicas ensinadas pelos padres que lhe explicavam a Bíblia. O aprisionamento e morte do seu irmão, o infante Dom Fernando em Tânger forçaram Dom Henrique a desenvolver o Plano das Índias. O obsessivo desejo do infante Dom Henrique de combater aos mouros em suas próprias terras contrariava seus próprios irmãos. O plano era de enviar tropas contra os mouros pela retaguarda para impedir as frequentes fugas para as montanhas e desertos, após cada batalha. O Plano das Índias seria bem sucedido após verificação por terra e através dos oceanos. Para tal, era obrigatório conhecimento de navegação em mares desconhecidos.
Dom Henrique contratou os serviços de técnicos
navais, cosmógrafos, cartógrafos, navegadores, comerciantes e físicos como:
Maiorca, Perestrelo, Cadamosto, Di Mare e Noli, para discutirem e ensinarem
navegação aos futuros comandantes em sua casa em Sagres. As sucessivas
descobertas das ilhas oceânicas e as novas terras na costa africana
recompensaram a nação lusitana com 20° de extensão territorial. O pensamento do
infante estava em “O benefício da sociedade está em produzir”.
Este obsessivo interesse de Portugal contra os
mouros agradou a Santa Sé. Em 1455 o Papa Nicolau V, seguindo a análise do seu
predecessor, honrou Portugal com o direito de propriedade exclusiva sobre as
terras de Deus ainda não descobertas. A importância desta Bula Papal levou
Portugal a entregar a Espanha o direito de posse sobre as ilhas Canárias.
Entretanto, a Espanha que há muito estava lutando contra os mouros, também
reivindicou o mesmo direito de Portugal, originando o Tratado de Tordesilhas de
07 de junho de 1494.
A descoberta das ilhas Canárias causou guerra entre os dois países, porque foi descoberta por navegador português, mas colonizada por espanhóis, levando a Espanha a reivindicar o direito Uti Possidetis. As coordenadas apresentadas por Cristóvão Colombo revelaram que a Nova Terra estava em território português e levou todos a Tordesilhas. A questão divisória do hemisfério havia sido proposta pela Espanha que aceitava as terras das ilhas Canárias para cima e para Portugal, daí para baixo (a divisão era horizontal). Porém, esta divisão causou novo conflito armado entre os dois países. Em Tordesilhas, a nova correção foi aceita e a linha limítrofe seria um meridiano de polo a polo. Através do livro de Marco Polo, Portugal sabia que a parte espanhola terminaria no oceano Pacífico. A descoberta das Filipinas por Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, resultou em novo conflito que foi resolvido com o Tratado de Saragoça em 1529, onde o meridiano de Tordesilhas seria movido para oeste mais 17°. Portugal deveria demarcar o novo limite no Brasil e enviou Martim Afonso de Souza e seu irmão Pero Lopes de Souza que assentou dois marcos na margem esquerda do Rio Paraná 35° 45′ Sul em 12/12/1532, um mês antes da fundação de São Vicente. A margem esquerda do Rio Paraná passou a ser a nova fronteira do Tratado de Tordesilhas até 1770 com o novo tratado.
Curitiba, 09 de janeiro de 2019
Extraído do livro Geração Intrépida – A História Política e Econômica do Sul do Brasil. – 2007 Egberto F Ribeiro.
Prof de Português e Administrador. Egberto Fioravanti Ribeiro.